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A educação midiática tem sido cada vez mais importante em sala de aula. Para abordar o tema, convidamos a especialista Januária Cristina Alves. Confira o artigo!
Célestin Freinet e a educação midiática
No início do século XX (mais precisamente nos anos vinte) Célestin Freinet, educador francês e fundador da chamada pedagogia Freinet, ainda hoje utilizada na educação de crianças do mundo inteiro, iniciou o seu trabalho com o uso do jornal escolar por meio de suas experiências com alunos da escola de Gars, no Sul da França.
Em seu livro mais famoso intitulado “O jornal escolar” (Ed. Estampa Ltda., 1974) Freinet afirmava: “Estamos atualmente na aurora de um novo período: a imprensa impôs a tal ponto a sua soberania que mesmo o manual mais rico não passa de um ‘ersatz’ da riqueza gráfica posta à disposição de todos pela técnica contemporânea. A própria escrita manuscrita tende a minimizar-se num mundo em que a máquina de escrever, a poligrafia, o disco, a rádio, o cinema, a televisão, o gravador, intensificam e aceleram a intercomunicação e as trocas”.
A partir dessa compreensão do contexto no qual estava inserido – a de que era necessário levar o mundo para a sala de aula, e que o mundo estava representado pelos meios de comunicação -, Freinet tornou- se uma referência para os estudos contemporâneos na área da educação, comunicação, pedagogia, psicologia e mais especialmente para a Educomunicação – cujo escopo é investigar a relação entre a comunicação e a educação – e que hoje se dedica a estudar, dentre outros tópicos, a Educação para as Mídias na escola.
A importância da leitura crítica dos meios de comunicação
Se nos anos vinte já havia essa percepção de que já não seria mais possível educar integralmente uma criança e um jovem para ser um cidadão atuante na sociedade sem passar pela leitura crítica dos meios de comunicação, hoje em dia tal fato tornou-se imperativo.
Segundo o professor e pesquisador de mídias britânico David Buckingham “… o objetivo da educação é preparar as crianças para a vida adulta – ajudá-las a entender o mundo no qual estão crescendo e a se tornarem participantes ativas (ou cidadãs) nesse mundo. Quase tudo (em nossa vida) é mediado de alguma forma. Se queremos preparar as crianças para este mundo, precisamos ensiná-las sobre a mídia”, ele afirma em seu Manifesto (The Media Education Manifesto, ainda sem tradução para o português).
Para ele, na era da desinformação e das mídias sociais, das notícias falsas e do capitalismo baseado em dados, a necessidade da compreensão de como elas funcionam, como representam o mundo e como são produzidas e utilizadas é mais urgente do que nunca. Todos nós precisamos pensar criticamente sobre a mídias, já que estamos imersos nessa cultura digital.
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Educação midiática e a BNCC
Portanto, era absolutamente necessário que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que nasceu como objetivo de elencar os conteúdos essenciais a serem abordados nas escolas brasileiras, incluísse em seu escopo o que chamou de “Campo jornalístico-midiático”, que reafirma a visão freinetiana de que é preciso levar a realidade para a escola e sobre ela refletir e discutir. A descrição do campo é bastante cristalina e não deixa dúvidas do que pretende:
“Trata-se de ampliar e qualificar a participação das crianças, adolescentes e jovens nas práticas relativas ao trato com a informação e opinião, que estão no centro da esfera jornalística/midiática. Para além de construir conhecimentos e desenvolver habilidades envolvidas na escuta, leitura e produção de textos que circulam no campo, o que se pretende é propiciar experiências que permitam desenvolver nos adolescentes e jovens a sensibilidade para que se interessem pelos fatos que acontecem na sua comunidade, na sua cidade e no mundo e afetam as vidas das pessoas, incorporem em suas vidas a prática de escuta, leitura e produção de textos pertencentes a gêneros da esfera jornalística em diferentes fontes, veículos e mídias, e desenvolvam autonomia e pensamento crítico para se situar em relação a interesses e posicionamentos diversos e possam produzir textos noticiosos e opinativos e participar de discussões e debates de forma ética e respeitosa.”
Se formos comparar a nossa realidade com aquela que o educador e teórico da comunicação McLuhan (o pesquisador visionário que afirmou que viveríamos em uma aldeia global com o advento da internet) observou, podemos verificar, tal como ele, como as mídias (os meios) tornaram-se a própria mensagem, pois, de fato, determinam como vamos nos comunicar.
E elas também continuam “extensões do homem”, como afirmou o teórico, basta perceber como são quase que um prolongamento do corpo dos jovens, que “não vivem” sem seus smartphones nas bolsas e bolsos e não se desconectam de suas redes sociais sob pena de “perderem alguma coisa muito importante”.
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Formação para práticas sociais e a educação midiática
Sendo assim, nada mais justo que a demanda colocada para a escola seja a de contemplar essas novas práticas de linguagem e produções de forma crítica, tal como fez Freinet.
É preciso preparar as novas gerações para trafegar entre o universo on e o off-line percebendo o quanto são influenciados (e influenciam) e moldados na sua maneira de ver e viver a realidade. A formação para as práticas sociais, objeto e uma das razões de ser da escola, passa, inevitavelmente, pela Educação para as Mídias.