Aprendendo a aprender
Um aluno autorregulado, portanto, é capaz de entender os caminhos metacognitivos do seu aprendizado, ou seja, possui habilidades para regular a sua própria cognição. Esse estudante planeja o seu estudo, monitora se está ou não aprendendo e avalia o seu desempenho.
Uma aprendizagem autodirigida não só garante melhor apreensão do conteúdo, mas um maior envolvimento com os estudos e um entendimento mais profundo do que movimenta a curiosidade de cada um.
A aprendizagem autodirigida não é uma capacidade inata do indivíduo, mas uma habilidade que pode ser desenvolvida ao longo do percurso escolar. Para isso, é indispensável que o estudante tenha a orientação de seu professor.
Aprendizagem autodirigida e a formação leitora
As práticas de leitura e de escrita são fundamentais no processo básico de escolarização. Após o momento da alfabetização no Ensino Fundamental, o desenvolvimento da proficiência leitora deve continuar para toda a vida, cultivando a todo momento o hábito de ler.
A inserção de um estudante no mundo letrado possibilita o acesso aos bens culturais, a apuração do senso crítico e favorece o aprendizado em todas as demais disciplinas curriculares. Uma compreensão leitora bem exercitada prepara qualquer indivíduo para todas as esferas da vida!
Ler a palavra, ler o mundo
A leitura é uma prática que acontece a todo o momento! No consumo de livros, jornais ou revistas, na interação com conteúdos de redes sociais, até mesmo nas experiências com os nossos amigos e família.
Afinal, quando estamos conversando com um amigo ou amiga e ele compartilha algo que lhe aconteceu, o que é esse momento senão uma contação de história, não é mesmo?
A atenção, compreensão e interpretação leitora depende de muitos fatores, mas uma questão basilar é a motivação. Quando gostamos de algo ou nos sentimos envolvidos por alguma temática, entendemos o que aquilo pode dizer de nós mesmos e de nossas experiências no mundo. É deste modo que todo o processo de aprendizagem fica muito mais interessante!
Para começar: uma dica de ouro!
Por isso, a nossa principal dica é: permita que o seu aluno explore o seu próprio gosto leitor. Iniciar a aplicação de estratégias ou práticas de aprendizagem autodirigida com livros que os seus estudantes gostam será muito mais simples e engajador.
Assim, em momentos futuros, você poderá inserir clássicos mais desafiadores no seu planejamento e trabalhar a ampliação do repertório leitor da sua turma.
Práticas de leitura para aprendizagem autodirigida
Nesta seção, vamos dar dicas práticas para a aplicação de estratégias de aprendizagem autodirigida em diálogo com processos de formação leitora, considerando os leitores da educação básica e a leitura literária. Vamos lá?
O pré-leitura:
Um olhar atento para a capa de um livro pode ser uma instigante estratégia de pré-leitura! O que a ilustração da capa diz para cada leitor? Desenvolver a leitura de imagens é uma competência fundamental em nosso mundo contemporâneo, e interpretar a capa de um livro pode dizer muito sobre uma história e nossas expectativas sobre ela.
Será que o autor ou autora daquela obra é reconhecido(a) pelo leitor? Que hipóteses o leitor consegue formular a partir do título do livro, da sinopse e da contracapa? Acessar conhecimentos prévios a partir dos elementos presentes na apresentação de um livro é um exercício interessante de planejamento para a leitura prestes a acontecer.
Além disso, neste momento, o educador pode orientar a sua turma a elaborar trilhas de leitura, a partir de algumas perguntas norteadoras:
Quantos dias são necessários para eu ler este livro?
Quantas páginas eu consigo ler por dia?
Que materiais eu preciso para seguir com esta leitura?
Existe um ambiente no qual eu me sinto mais confortável lendo?
Que atividades eu gostaria de fazer para apreender o conteúdo da narrativa?
Durante a leitura:
No momento da leitura, são muitas as estratégias para tornar o processo mais dinâmico, como, por exemplo, escolher momentos de leitura autônoma e de leitura compartilhada.
Na leitura autônoma, o leitor pode focar em sublinhar palavras desconhecidas ou frases impactantes, anotar ideias que surgem durante a leitura, descobrir se prefere ler em voz alta ou em silêncio e até mesmo reler passagens mais desafiadoras duas ou mais vezes.
Na leitura compartilhada, o ato de ler é atravessado pelo diálogo! Neste caso, é interessante a leitura em voz alta, com especial atenção para entonações e vozes das personagens.
Para este momento, o educador pode separar a turma em duplas compostas de estudantes de maior e menor fluência leitora e sugerir que realizem atividades para além da leitura.
Abaixo estão alguns exercícios para realizar durante a leitura, seja nos casos de leitura autônoma ou de leitura compartilhada:
Interpretar e conversar sobre o que o autor quis dizer com determinada passagem.
Organizar em um mapa as principais características das personagens da história.
Elaborar uma nuvem de palavras para investigar as principais características daquele gênero literário.
Conduzir uma pesquisa sobre o autor ou o contexto histórico no qual ele escreveu a obra.
O pós-leitura:
Para este momento, vale a mediação de um debate com a turma a partir de perguntas disparadoras sobre a narrativa, o aprofundamento do estudo das personagens, a elaboração de uma ilustração, encenação ou releitura da história.
É importante que o estudante reflita sobre aquela obra de forma lúdica, divertida e comprometida! E se um outro final fosse criado para essa história? E se esse texto tivesse uma versão em quadrinhos, como seria? É possível produzir um meme a partir de alguma passagem do texto?
Para finalizar o encontro com um livro, é fundamental avaliar como o estudante apreendeu aquele texto, e quais estratégias de leitura funcionam melhor para cada um.
Ao final do processo, oriente a turma a investigar esse caminho trilhado, instigando cada um a refletir sobre o que mais gostaram na história, quais modos de ler preferem, se anotar ajuda ou atrapalha, se preferem ler em silêncio ou em voz alta, e por aí vai!
Nem todo livro é para todo leitor…
Professor, inserir os seus estudantes no universo literário é fundamental para trabalhar textos com profundidade, evitando reducionismos e falhas na interpretação. Mas lembre-se: nem todo estudante irá gostar ou se envolver com todo livro. É imprescindível levar isso em conta!
Não se esqueça: o mais importante em um processo de formação leitora é que o estudante sinta que concluiu um percurso e que o seu tempo com o livro e com a narrativa foi repleto de boas experiências e aprendizados, mesmo com possíveis desafios.
A aprendizagem autodirigida ou autorregulada é um “pensar o próprio pensamento”, e a linguagem e a palavra são elementos indissociáveis do ato de pensar. Por isso, experimentar a leitura e o que ela proporciona é um direito de todos! O papel da escola e do professor é indispensável neste processo de formação leitora.
Esperamos que o conteúdo tenha te ajudado a pensar novos caminhos para construir alunos cada vez mais autônomos e empoderados de seu gosto leitor.
Acesse também o nosso post “José Pacheco e as novas construções da aprendizagem” para mais reflexões sobre aprendizagem e autonomia. Até a próxima!