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Conheça o sistema educacional em Cingapura

Conheça o sistema educacional em Cingapura

3 min

sistema educacional em Cingapura

Ao discutir formas de aperfeiçoar a educação, podemos partir de várias perspectivas. Mirando o microcosmo, podemos orientar nossos esforços em melhorar ações específicas na esfera aluno-escola ou filhos-família. Por outro lado, adotando uma perspectiva mais ampla, podemos analisar exemplos de sistemas educacionais bem-sucedidos e refletir sobre pontos de melhoria no macroambiente. Estas duas perspectivas são importantes e nosso blog tenta mostrar ambas, equilibrando assim as diferentes e complementares formas de atacar os problemas.

Hoje falaremos sobre modelos internacionais de educação que podem nos ajudar a repensar os desafios no Brasil.

Não há uma resposta única ou modelo “ideal” de educação no mundo. Nenhuma Nação possui todas as respostas para a ampla miríade de desafios no campo educacional. Alguns países, entretanto, são capazes de endereçar importantes questões nesta jornada.

A educação é o caminho para o desenvolvimento da Nação.

Falaremos hoje sobre a Cingapura, uma pequena cidade-estado no Sudeste Asiático com 5,5 milhões habitantes e cerca de meio milhão de jovens em idade escolar. Quando se tornou independente em 1965, há menos de 50 anos, esta Nação era muito pobre, sua população possuía baixos níveis de escolarização e contavam com diversos conflitos étnicos e religiosos.

O que fez a Cingapura para em menos de 50 anos passar a brilhar nos rankings mundiais como um dos melhores países em desempenho educacional?

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Visão clara e coerente sobre o papel da educação

Em Cingapura, esta noção foi fomentada e reafirmada exaustivamente entre os cidadãos: a educação é o caminho para o desenvolvimento da Nação e, mais importante, trabalho árduo e disciplinado é recompensado e quebra barreiras sociais e econômicas.

Para um país com pouquíssimos recursos naturais e escassa população, a Cingapura não poderia depender de uma economia baseada em mão de obra intensiva ou focada em recursos naturais… seu foco se voltou a desenvolver o capital humano e construir uma economia “intensiva em competências”.

Mudar o status da profissão do professor na sociedade.

Com uma visão clara em mente (governantes e população) e sabendo que não haveria atalhos, um grande foco do governo foi mudar o status da profissão do professor na sociedade. Tarefa difícil, porém possível: com investimentos na formação intensiva e continuada de professores, além do desenvolvimento de um plano de carreira em 4 etapas, esta profissão foi alçada ao seu merecido posto: uma profissão nobre cujo objetivo é moldar o caminho futuro, não prender-se ao passado. A valorização docente reflete a certeza de que nenhum sistema educacional pode ser melhor do que seus professores.

Obviamente, mudanças de direcionamento ocorreram nestes 50 anos, ou melhor, melhorias contínuas. Estudos da OCDE descrevem 3 grandes fases pelas quais o sistema educacional cingapuriano passou:

  • 1ª fase (1959-1978), conhecida como “fase da sobrevivência”, foi focada na expansão do ensino básico a todos os cidadãos. Estavam correndo atrás do prejuízo;

  • 2ª fase (1979-1996), chamada “fase da eficiência” o país mudou o direcionamento da educação para adaptar-se às novas demandas mundiais: de economias baseadas em trabalho intensivo para economias baseada em competências. Neste momento houve um grande investimento em escolas técnicas, com o lema “hands-on, minds-on, hearts-on” (algo como “mãos, cabeça e coração à obra”). Atualmente, o ensino técnico representa cerca de 25% das matrículas no ensino pó-secundário da Cingapura.

  • 3ª fase, atual, mostra o nível de atenção deste país às mudanças no ambiente global. Percebendo que a prosperidade das nações passou a se basear cada vez mais em sua capacidade de inovação, a Cingapura passou a fomentar uma educação voltada para o desenvolvimento da criatividade e aplicação de novas ideias. Uma gama mais variada de escolas foi criada, o uso da tecnologia em sala de aula passou a facilitar novos tipos de aprendizado e as escolas ganharam maior autonomia.

Além disso, com o mantra “teach less, learn more” (ensine menos, aprenda mais), os currículos passaram a ter maiores espaços para zonas brancas, dedicadas ao aprendizado autodirigido e com maior ênfase em projetos. Os cingapurianos perceberam que seu currículo anterior, repleto e pesado em conteúdo, precisava promover orientações mais amplas, incluindo artes, música, tecnologia e jogos.

Existem limitações óbvias às comparações com o caso brasileiro (o tamanho dos países, as diferenças culturais e históricas, por exemplo), porém fica claro que não há mágica para transformações. Há trabalho, muito trabalho.

Em Cingapura isso significou (i) alinhamento e coerência entre as diferentes esferas da sociedade, (ii) foco no desenvolvimento dos professores e (iii)  atenção às mudanças mundiais e novas necessidades de aprendizado, uma grande abertura ao novo.

Ao refletir sobre o caso brasileiro

Parece haver ainda uma noção quase mística de que a prosperidade da Nação pode resultar de fatores externos ou eventuais (se a economia mundial vai bem, nós vamos bem… Ou se temos Copa, há esperança). Isso não ocorre apenas nas grandes esferas governamentais, mas aparece também na vida do cidadão comum: na procura por atalhos, alguns deixam de lado o maior investimento que poderiam fazer para si próprios, o de se educar.

Ademais, ainda sofremos com uma falta de orientação para o futuro. O sistema educacional deveria preparar para as carreiras do futuro com o uso de tecnologia, ampliação dos currículos, abertura e ampliação de horizontes, formação de indivíduos questionadores, com apurado senso crítico e pró-ativos em sua jornada de aprendizado. Neste sentido, já podemos ver algumas iniciativas promissoras no ensino público e privado porém isto precisa se tornar regra, não caso excepcional.

De modo geral, as comparações nos abrem os olhos. Mesmo sendo um dos líderes mundiais em educação, a Cingapura não descansa. O que será que nós, aqui no Brasil, deveríamos estar fazendo então?

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