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A alfabetização é um processo basilar para quem inicia a trajetória escolar. Infelizmente, em 2020, vimos a pandemia atravessar esse momento tão importante de muitas crianças.
Para entender melhor os impactos da pandemia na alfabetização, convidamos nossa especialista, a pedagoga Raquel Falcão, que vai nos contar mais sobre os efeitos e possibilidades de intervenção. Vamos lá!
- Raquel, o que a pandemia representou para os estudantes da alfabetização?
Infelizmente o cenário pandêmico representou o afastamento dos estudantes de seus professores alfabetizadores, e em alguns casos, até a interrupção desse processo de alfabetização. Com isso o locus da aprendizagem passou a ser os lares e os familiares, os mediadores deste contexto.
Sendo assim, estas mudanças também representaram novos desafios e a defasagem para os estudantes, que na tentativa de compreender o sistema alfabético de escrita que foi sendo orientado pelos familiares, precisou reinventar o seu desenvolvimento linguístico e cognitivo em situações adversas.
- Quais os principais impactos da pandemia sobre as crianças que atravessaram a alfabetização dentro de casa?
O processo de alfabetização é conduzido por práticas e iniciativas pedagógicas que dentro de um escopo de trabalho docente, mobilizam objetivos específicos e planejados, por isso a interação entre estudante e professor alfabetizador é essencial nesta orientação, e muito dificilmente pode ser substituída por um adulto não formado para essa ação educativa.
Por isto, um dos principais impactos da pandemia foi, como já citado, esse afastamento que propiciou o ensino da língua desvinculado de uma intencionalidade pedagógica clara. E neste cenário, os familiares se viram em um novo papel, o qual não estavam preparados para ocupar.
Por outro lado, um reflexo positivo que a pandemia e o ensino a distância propiciou foi o estreitamento entre família e escola, onde os familiares tiveram a oportunidade de conhecer melhor o processo de aprendizagem dos estudantes, assim como puderam entender com mais clareza a função da escola e do professor. Talvez esse impacto se torne uma realidade permanente e as escolas possam estabelecer uma parceria mais ativa com as famílias, sejamos otimistas.
- Muitos alunos não tiveram o apoio da escola ou dos pais nesse momento. As perdas são recuperáveis, Raquel?
É certo que a pandemia trouxe desafios para a alfabetização, mas não perdas irreparáveis. Com um trabalho pedagógico especializado, voltado para a defasagem, é possível retomar o processo de alfabetização respeitando o desenvolvimento progressivo destes estudantes e dar continuidade a suas aprendizagens.
Nesse sentido, é importante ter em mente que a alfabetização ocorre numa relação com e no mundo através da língua, ou seja, o afastamento dos estudantes da escola dificulta o processo de escolarização, mas não o de relação com a linguagem.
Assim é possível que os docentes, como os profissionais capacitados para essa prática, façam uso dos contextos sociais para orientar ações alfabetizadoras contextualizadas e significativas, que em diálogo com a aprendizagem do sistema alfabético de escrita poderão recuperar as perdas oriundas deste momento pandêmico.
- Na sua perspectiva, o que é necessário para preencher as lacunas de defasagem?
Mais do que nunca, os professores alfabetizadores precisam conhecer bem o sistema de representação dos grafemas e fonemas, para criar possibilidades de compreensão pelos estudantes, desse sistema alfabético de escrita, que é complexo e abstrato.
Assim se faz necessário ter esse olhar especializado para a criação de atividades e ações que contemplem o desenvolvimento progressivo deste aluno e que levem em consideração suas habilidades leitoras. Nesse caso, os docentes podem criar atividades diagnósticas para verificação da aprendizagem e traçar um plano de ações que preencham essas lacunas em diálogo com as atividades já iniciadas no ensino remoto.
- Quais ferramentas e práticas você acredita que podem ser acionadas para ajudar os professores nesse momento?
Com relação a práticas alfabetizadoras, têm se observado que a contação de histórias, leituras de memória e a leitura compartilhada se tornaram grandes aliadas dos professores no ensino a distância para a compreensão leitora, assim como diversos tipos de textos: livros literários, cantigas e brincadeiras, parlendas, jornais, correspondências mensais e outros suportes textuais, que foram incorporados ao processo de alfabetização como instrumentos potentes de auxílio ao professor, por promover diferentes situações de leitura que aguçam o seu uso social.
Ademais, em diálogo com estas ferramentas, a Árvore seria esta opção, que tanto no ensino à distância quanto no ensino presencial, potencializa a alfabetização a partir da literatura, se tornando um recurso potente para auxiliar os professores neste momento de retomada.
- Raquel, para finalizarmos, o que você diria para o gestor(a) que receberá ou já está recebendo crianças que passaram pela alfabetização em casa?
Diria para levar em consideração as aprendizagens que foram estimuladas em casa pela família, a fim de desenvolver iniciativas que complementam esta alfabetização familiar ou que ampliam as situações de aprendizagem vivenciadas.
Na oportunidade, daria também uma dica: promover encontros formativos com estas famílias para colher dados, compreender como foi esse processo, quais ações que foram desenvolvidas e caminhos que foram trilhados. No entendimento de que estas informações são relevantes quando pensamos no desenvolvimento da criança, e que partindo delas, pode-se criar ações pedagógicas orientadas cheias de significado, que beneficiarão seu processo de escolarização.
Gestor(a), esperamos que a conversa com a nossa especialista te ajude a entender melhor esse momento e te inspire a traçar novas estratégias para uma intervenção ainda mais assertiva, incentivando a participação ativa dos pais e responsáveis! Até mais!