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Como promover a saúde mental na escola?

Como promover a saúde mental na escola?

3 minutos

Como promover a saúde mental na escola?

Nos últimos anos, a saúde mental na escola tornou-se pauta protagonista. A pandemia, que teve início em 2020, deixou ainda mais explícita a necessidade de prestar atenção ao comportamento dos alunos.

Porém, as consequências deste momento não atingem apenas os alunos: os educadores também sentiram – e ainda sentem – os impactos desta mudança drástica na rotina da vida e do cotidiano escolar.

O que é saúde mental na escola?

Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), o termo “saúde” diz respeito ao bem-estar físico, mental e social de uma pessoa, indo além de possíveis doenças ou enfermidades.

Seguindo esse raciocínio, o conceito de saúde mental engloba o bem-estar psicológico no sentido de estar bem consigo e com os demais. Da mesma forma, seu contexto vai além da existência de transtornos mentais e envolve a capacidade de lidar com emoções e exigências referentes à nossa existência e à vivência na escola.

Sendo assim, a saúde mental é caracterizada por:

  • saber manter o controle de si diante de situações de adversidade;

  • contribuir para a comunidade por meio de estudo, trabalho e cuidados com os demais;

  • ser capaz de traçar metas e estabelecer meios para alcançá-las;

  • desenvolver aspectos como a resiliência;

  • ser capaz de estabelecer relações saudáveis, seja na vida pessoal, estudantil ou profissional;

  • saber se expressar e demonstrar suas opiniões de forma clara.

  • reconhecer seus próprios limites;

  • ser capaz de buscar aconselhamento quando necessário.

Para promover a percepção e o trabalho da saúde mental na escola, entrevistamos o médico psiquiatra e organizador do livro “Saúde Mental na Escola: o que os educadores devem saber”, Gustavo Estanislau.

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Confira a entrevista com Gustavo Estanislau sobre saúde mental na escola

Confira, a seguir, o resultado desta entrevista enriquecedora, que nos mostrou como trabalhar a saúde mental na escola.

Quais foram os efeitos negativos da pandemia na saúde mental?

Os impactos da pandemia dividem uma raiz muito parecida. Primeiro, houve quebra da rotina e, com essas mudanças drásticas, todos apresentamos um estado de maior estresse devido à quantidade de adaptações requeridas. Nesse momento, passamos a funcionar em alerta a tudo o que mudou, e isso gerou estresse.

Com o tempo, começamos a ficar mais preocupados com as notícias, incertezas e dúvidas que chegavam a todo momento. Com isso, apresentamos níveis maiores de ansiedade, que costuma vir acompanhada de medos: de sair de casa, do futuro etc.

A diferença entre ansiedade e estresse é que, na primeira, existem pensamentos problematizadores e um hiperfoco em coisas que te preocupam. O estresse, que apareceu inicialmente, funciona um pouco diferente, já que a pessoa tende a ficar mais à flor da pele, irritável e emotiva.

Um terceiro conjunto de fenômenos começou a aparecer com mais frequência após tantos meses de pandemia: desânimo, tristeza e falta de motivação. Essa queixa, que não era tão comum no início, tem se tornado frequente entre as pessoas, que se sentem desconectadas.

A questão é que, do ponto de vista de saúde mental, os impactos foram parecidos. No entanto, a expressão de cada um deles pode ter sido diferente. Do ponto de vista físico, crianças e adolescentes apresentaram um aumento de:

  • queixas sobre dores no corpo;

  • problemas como insônia;

  • aumento de apetite;

  • ganho de peso;

  • falta de exercício físico.

Nos adultos, além dos danos expostos acima, maus hábitos, como o tabaco e o álcool, também ganharam força. Como se tudo isso não fosse suficiente, quem permanece em lugares fechados recebe pouca incidência de luz solar, o que causa baixos níveis de vitamina D e consequências negativas para o organismo.

Como foi o impacto nas crianças e adolescentes?

Em um primeiro momento, as crianças estavam em um estado de estresse e ansiedade, muito mais infantilizadas, regredidas e manhosas. Muitas voltaram a ter medos que não tinham mais, a dormir na cama dos pais, ficaram mais seletivas com a comida, mais choronas, com medo do futuro e de sair de casa.

Os adolescentes, de certa forma, acabaram se blindando dessas preocupações e da ansiedade por meio do aumento do uso de jogos eletrônicos. A pessoa fica hiperfocada nesse tipo de atividade e não entra em contato com o estresse, o tédio ou a angústia pelo que está por vir.

Do ponto de vista do desânimo, vimos muitas crianças pedindo, e pais topando, que elas não assistissem mais às aulas. Vi pais ajudando muito na realização das atividades para entregar o que fosse necessário para passar de ano, permitindo que os filhos não tivessem mais aulas online ou realizassem as atividades propostas pela instituição de ensino.

Vimos uma desconexão com a escola neste período da pandemia e, de forma geral, todos se afastaram emocionalmente daquilo que gostavam: encontros com amigos, hobbies etc. 

Vai ser um desafio, mas é importante que, pouco a pouco, se façam essas reconexões.

Leia também: Recuperação da aprendizagem: como retomar pós pandemia

E com os educadores?

Do ponto de vista dos professores, no início vimos um tipo de estresse bem comum. Como eu disse antes, as pessoas se tornaram mais emotivas, mais à flor da pele, mais irritadas etc. Quando ficamos estressados, nosso cérebro tende a ficar muito atento às ameaças e ao que está dando errado.

Vi muitos educadores com a sensação de não estar conseguindo fazer nada direito e isso, muitas vezes, era um viés do estresse inicial. Na ansiedade, houve muita preocupação com a volta às aulas, com a própria saúde e com a dos alunos.

No desânimo, a terceira fase, há muitos casos de depressão, muitas pessoas que já não estão aguentando mais a barra de ter que continuar conectados. Elas querem parar, mas são dependentes de atividades tecnológicas que podem ser pouco intuitivas e bastante complexas para alguns.

Educadores tiveram um estresse adicional com a sobreposição de jornada do cuidado da casa, do trabalho, dos filhos e da própria saúde, tudo em simultâneo. Isso foi um desafio muito grande e acabou gerando angústia e estresse.

Leia também: Saúde mental x Socioemocional na escola: saiba a diferença e como leitura pode ajudar

Quais dicas você pode dar aos educadores para superarem os desafios deste período?

Para acolhermos uma pessoa, seja em uma pandemia ou fora dela, o autocuidado tem que vir em primeiro lugar. Temos que partir de uma saúde mental razoavelmente boa, pois, se eu estiver muito estressado, irritado, tenso, com muito medo ou tristeza, é improvável que eu consiga fazer um acolhimento efetivo.

No acolhimento, buscamos reduzir o nível de ansiedade e preocupações que a criança tem, passando informações corretas, de forma que o aluno entenda e tenha os cuidados necessários, mas sem fazer um alarde muito grande para não causar pânico. O que eles querem é conforto, estabilidade e tranquilidade.

Então, o educador tem que cuidar de si mesmo e da sua saúde em primeiro lugar, para poder cuidar do outro. É muito importante:

  • manter uma alimentação saudável;

  • dormir bem;

  • se hidratar com frequência;

  • realizar exercício de respiração e/ou meditação;

  • fazer exercício físico com regularidade.

Para você poder fazer bons acolhimentos, tenha também autocompaixão. É importante que possamos cuidar de nós mesmos de uma forma amável e agradável, nos permitindo cometer alguns erros. Afinal, são muitos os cenários que não conhecemos e muitos os desafios com os quais não estamos habituados a lidar e que não temos certeza de como lidar.

É fundamental, também, buscar formas de desenvolver o pensamento de gratidão em relação às coisas, fazer com que consigamos perceber as coisas boas que também estão acontecendo à nossa volta.

Olhar ao redor e tentar identificar coisas pelas quais nos sentimos gratos faz com que o cérebro exercite essa via de olhar. Afinal, em momentos de estresse como esse que estamos vivendo, usamos muito o circuito de só perceber ameaças e erros.

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Como acolher os alunos de forma efetiva em um “projeto saúde e bem-estar na escola”?

É importante aguçar o olhar em relação ao aluno, prestar atenção e estar aberto aos sinais que os alunos podem dar, como um “projeto saúde e bem-estar na escola”.

As crianças pequenas geralmente dão sinais mais objetivos, como, por exemplo, elas ficam menos brincalhonas, falantes e sociáveis. Já os adolescentes podem apresentar as mesmas coisas que os menores, mas com sinais menos claros, como levantar com mais frequência assuntos que denotam que ele está mais triste ou irritável.

Então, se estamos atentos, conseguimos promover a saúde mental na escola, agindo de forma preventiva para evitar que uma coisa pior aconteça. Uma boa forma de fazer isso é perguntar para cada um dos alunos como foi esse período, como ele está e mostrar interesse. Isso nos dá a oportunidade de observar que alguma coisa não está legal.

Se for possível, é legal investir na comunicação escolar e entrar em contato com ex-professores que conhecem a criança há mais tempo para saber se ela já teve algum tipo de comportamento anteriormente ou não. Às vezes, não temos muito parâmetro e podemos ficar sem perceber alguma coisa que tenha mudado nesse período.

Por último, recomendo que, na medida do possível, os educadores tentem estabelecer algum tipo de comunicação com os pais. Sei que isso pode ser complexo, mas é bom tentar compreender como foi esse período para a criança, como ela passou esse tempo e se houve algum tipo de situação mais complicada.

O professor pode ficar mais alerta com alguns alunos, afinal, há também casos de alunos que não estão voltando para a escola por algum motivo, seja ansiedade, medo, desânimo ou outras motivações. O professor tem que fazer esse papel ativo de buscá-lo para reduzir a ocorrência de evasão escolar e tentar uma reaproximação com a instituição de ensino.

saúde mental na escola

Gustavo Estanislau

Médico Psiquiatra, Especialista em Psiquiatria da Infância e da Adolescência pelo Hospital de Clínicas de Porto Alegre (UFRGS). Doutorando em Psiquiatria pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Organizador do livro “Saúde Mental na Escola: o que os educadores devem saber”, lançado em 2015, pela editora Artmed. Pesquisador do Y Mind – Centro de Prevenção de Transtornos Mentais. Palestrante, consultor em instituições de ensino e psiquiatra clínico. Atuou como pesquisador clínico do Programa de Reconhecimento e Intervenção nos Estados Mentais de Risco (PRISMA) da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e como membro  do Grupo de Estudo de Adições Tecnológicas (GEAD) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

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