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Um Homem negro morador de periferia lança seu primeiro livros de poesias com o auxílio de uma empresa onde trabalhava como auxiliar de arquivo morto. Somente conseguiu chamar atenção ao divulgar seus textos de forma incessante nas paredes da cozinha, banheiro e elevadores da firma.
12 anos depois, lança mais de 10 livros em diversos idiomas, vende mais de 200 mil exemplares somente no Brasil, abre uma loja de roupas referência no mercado negro de periferia e se torna um dos maiores nomes da Literatura Marginal mundial. Parece um roteiro de minissérie, mas é a vida de Ferréz.
"Comecei a escrever essa história porque queria fazer um livro para quem nenhum autor escrevia: uma menina negra e pobre da periferia"
Quem é o escritor Ferréz?
A história de Reginaldo Ferreira da Silva começa em 1975, no Capão Redondo, um dos bairros mais perigosos da cidade de São Paulo. Enquanto criança, iniciou sua escrita copiando trechos da bíblia, o único livro disponível em sua casa durante muito tempo. Aos 12 anos, já escrevia poesias.
Na contramão do que o senso comum espera de um jovem crescendo na periferia, Ferréz (o apelido é um híbrido de Virgulino Ferreira e Zumbi dos Palmares) encontrou nos livros e na escrita as maiores armas para denunciar as dificuldades enfrentadas pela população pobre do país.
Carregando em seu currículo trabalhos como auxiliar de escritório, atendente de rede de fast-food, balconista e arquivista, Ferréz traz em suas obras a vivência do negro periférico. Em seu livro mais famoso (Capão Pecado, 2000, Ed. Planeta), conta a história de Rael, um jovem nascido e criado em Capão Redondo, cujos amigos morrem um a um em decorrência do poder do crime.
Ilustra, também, como o cotidiano violento da criminalidade não parte somente de dentro de quem está na periferia: todas as conjunturas sociais, falta de estruturas educacionais, desigualdades econômicas e corrupções políticas são denunciadas ao longo da história, como forma de mostrar o contraponto do senso comum e a visão de quem vive em situação de extrema pobreza. Afinal, a primeira vez que Ferréz viu carne à mesa de casa foi somente aos 15 anos de idade.
Trajetória na literatura infantil
Em 2005, lança seu primeiro livro infantil. Amanhecer Esmeralda (Ed. DSOP) conta a história de Manhã, uma menina negra, pobre e sonhadora que, mesmo enfrentando um cotidiano de tanta pobreza, consegue levar beleza à todos ao seu redor. O livro fala sobre empoderamento da mulher negra, e também sobre a coletividade da periferia. Com mais de 50 mil cópias vendidas, é muito discutido e trabalhado em diversas escolas do Brasil e do mundo. Como diz Ferréz (2015):
“É uma história inspiradora, de como pequenos atos de várias pessoas podem transformar a vida de uma criança. Comecei a escrever essa história porque queria fazer um livro para quem nenhum autor escrevia: uma menina negra e pobre da periferia. E também porque as pessoas me perguntavam o que podiam fazer para ajudar e eu quis mostrar que mesmo as pequenas ajudas são muito importantes. Esse livro me deu muitas alegrias. Uma vez visitei uma escola e tinha uma sala só com bonecas feitas pelos alunos da ‘Manhã’, estavam fazendo obras na escola porque leram no livro que tinham que meter a mão na massa e não ficar esperando.”
Com sua escrita ágil, seca e voraz, Ferréz transmite em seus contos, prosas e romances o cotidiano na voz de quem vive na periferia. Não raro o leitor irá ficar em dúvida se está lendo ficção ou não, visto à realidade que é retratada em suas obras. Violência, pobreza, perplexidade, revolta e dilemas morais são temas corriqueiros. Entretanto, uma faísca sempre brilha mais forte ao fim de seus textos: Sua determinação.
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