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Diferentemente do que se acreditava, a recomposição da aprendizagem não está sozinha na lista dos desafios no cenário de retorno às aulas presenciais. Pelo contrário, a qualidade da saúde mental dos estudantes ocupou um espaço significativo nessa lista.
Pensando nessa temática, neste texto vamos destacar algumas práticas que podem ser vivenciadas na sua escola, apontando a combinação entre o desenvolvimento socioemocional e a leitura como um caminho possível para esse desafio.
O que é desenvolvimento socioemocional?
Primeiro, é importante notar que saúde mental e competências socioemocionais não são a mesma coisa! As competências socioemocionais são habilidades que auxiliam o estudante a compreender a si mesmo e a construir relações mais saudáveis com o universo a sua volta. Algumas delas são: autoconhecimento, resiliência, empatia, colaboração, entre outras tantas mais.
E o mais importante, elas fazem parte do que a política nacional de educação, como a Base Nacional Comum Curricular, espera que o estudante desenvolva. Desse modo, faz parte do escopo da escola projetar ações e atividades contínuas que trabalhem e estimulem essas capacidades.
No que diz respeito à saúde mental, muito embora também esteja relacionado a um estado de bem estar, o indivíduo com saúde mental é capaz de usar suas habilidades para interferir e agir com o mundo.
No entanto, ela não está compreendida no bojo de obrigações da escola. Uma vez que a saúde mental deve ser tratada e acompanhada por profissionais especialistas na área, como psicólogos e psiquiatras, por exemplo.
A escola e o desenvolvimento socioemocional
Sendo a escola o lugar em que as crianças e adolescentes passam a maior parte do seu tempo, torna-se essencial que a instituição seja um espaço de escuta, acolhimento, observação e por fim, encaminhamento dos estudantes e educadores aos profissionais competentes, caso seja necessário.
Assim, como sabemos da importância do afeto para a construção da aprendizagem, é também pelo afeto que a escola pode se tornar promotora da saúde mental. Porque o afeto cria vínculos e os vínculos promovem oportunidades de escuta. E a escuta possibilita trocas que permitem a identificação e encaminhamento correto dos casos que podem surgir.
Entretanto, aqui, precisamos lembrar que além do papel de escuta ativa, acolhimento e encaminhamento, a escola pode atuar em outra frente, dando oportunidades para que o estudante identifique e compreenda suas emoções por meio das competências socioemocionais. Educador, e o incentivo à leitura pode ser esse caminho!
A leitura e o desenvolvimento socioemocional
A leitura é uma ferramenta que além de nos proporcionar diversas experiências, visitas imaginárias à culturas e realidades, nos possibilita acessar informações e nomear sentimentos talvez nunca antes percebidos.
Ela tem o potencial de nos fazer refletir sobre nossas emoções, criar oportunidades para falar, ouvir e nos conectarmos uns com os outros.
A leitura é uma companheira insubstituível no dia a dia da escola, principalmente para a construção das aprendizagens, das atividades e processos avaliativos. Mas além de todos os benefícios já conhecidos, ela pode se superar em vários outros aspectos.
Estamos falando do desenvolvimento socioemocional dos estudantes. Principalmente porque, os elementos terapêuticos existentes nos textos literários, têm o potencial de evocar catarse, identificação e introspecção.
A primeira, diz respeito à forma como sentimos alívio quando rimos ou choramos ao ler um texto. Enquanto a identificação é uma reação inconsciente, quando nos apropriamos das características dos personagens literários.
Por exemplo, nos momentos que o leitor “pega emprestado” a força do personagem para enfrentar seus problemas e solucionar questões.
Já a introspecção é uma reação consciente, quando se reflete sobre pensamentos e atitudes para mudar ou aceitar um comportamento, seja de si mesmo ou do outro. O comportamento dos personagens das narrativas pode ser destacado para esse aspecto.
5 atividades que combinam desenvolvimento socioemocional e leitura
Abaixo separamos ideias que podem ser aplicadas ou modificadas de acordo com o contexto vivenciado pelos seus alunos. Elas podem ser projetadas em sequência ou executadas esporadicamente. O que vai definir isso é o propósito dos educadores e o tamanho do desafio que a escola está enfrentando.
1 - Espaço para desenho e autorretrato
O autoconhecimento é a competência socioemocional fundamental que embasa a construção de todas as outras. Por essa razão, após a leitura de um livro, proporcionar situações nas quais o estudante possa se ver, por fora e, principalmente por dentro, é fundamental para seu desenvolvimento socioemocional.
Assim, desenhos, autorretratos e dramatizações que provoquem comparações e releituras entre o estudante e os personagens das histórias, pode ser uma prática eficiente nesse processo. Com os resultados obtidos, é importante que haja um momento de exposição sobre o que foi desenhado.
Essa atividade pode ajudar a escola a compreender como os alunos se enxergam e, assim, buscar encaminhamentos mais assertivos com psicopedagogos e psicólogos. Isto é, ser um subsídio para o encaminhamento a outras instâncias que ofereçam, se necessário, um tratamento mais aprofundado com especialistas.
2 - Clube de livro
O clube de leitura é um espaço contínuo de trocas, uma atividade coletiva, de socialização e debates sobre livros. Em que os participantes podem criar e estreitar relações, uma vez que os encontros ocorrem periodicamente.
O espaço do clube tem a finalidade de troca de perspectivas, impressões e ideias sobre a obra que, por meio de perguntas norteadoras, poderão aprofundar a compreensão do texto e, por que não, ser um caminho para o desenvolvimento socioemocional dos estudantes?
Isto porque, com perguntas norteadoras, é possível que os participantes criem aproximações e distanciamentos com a narrativa. Deslocando-os a repensar sua própria experiência e aprendizado com diferentes perspectivas de vida.
É uma oportunidade para o professor mediador, se aproximar dos alunos, conquistar sua confiança, construir um ambiente de diálogo e empatia, para que as emoções, sentimentos e sensações tenham espaço de discussão e de identificação.
3 - Roda de conversa
As rodas de conversa também são oportunidades únicas para exercitar a escuta ativa e empática dos e entre os estudantes.
Depois da leitura compartilhada por toda a turma, de preferência com um livro de sua escolha, uma roda de conversa descontraída e leve, pode render ótimos insights de ação e reconhecimento das emoções e de alunos que precisam de mais atenção do psicopedagogo ou psicólogo da escola.
Mas é super importante que sintam que há um espaço aberto e receptivo para suas percepções e opiniões. Diferente do clube de livro, a roda de conversa pode ser feita pontualmente, depois de um episódio vivenciado pela turma ou também alguma atividade escolar.
4 - Biblioterapia
Para quem não conhece, a biblioterapia apresenta duas vertentes: a biblioterapia clínica e a biblioterapia de desenvolvimento. A primeira é aplicada por pessoas da área de saúde. Já a segunda, pode ser realizada por diversos profissionais, como bibliotecários e pedagogos.
Esclarecida a diferença, podemos continuar! Quando lemos histórias, respondemos a estímulos provocados (consciente e inconscientemente), o que resulta em reflexões ou mudanças significativas na nossa forma de agir e reagir externamente.
Na biblioterapia o desenvolvimento socioemocional dos estudantes pode ser trabalhado através das histórias lidas, narradas ou dramatizadas. Nela, as emoções do texto são diretamente relacionadas a episódios vividos pelos participantes, desdobrados e refletidos em conjunto.
Onde é possível proporcionar aos alunos a vivência simbólica dos sentimentos trazidos pela leitura e, com isso, eles passam a ter mais ferramentas emocionais para lidar com momentos desafiadores.
Assim, a biblioterapia potencializa o conhecimento das emoções, e situações, ampliando o repertório emocional do estudante, podendo ser um caminho para inferir novos sentidos à literatura na escola.
5 - Atividade criativa
O amor se parece com o quê? E a raiva? Mas e a perda? Você já pensou sobre isso? Se não, que tal proporcionar aos estudantes uma atividade que ajude-os a transformar seus sentimentos em objetos?
Essa pode ser uma possibilidade para que os estudantes aprendam a dimensionar e a nomear suas emoções. Elas podem ser materializadas em desenhos, palavras ou na produção de objetos com papel, argila, massinha, entre outras coisas.
O exercício mental e afirmativo de comparação é muito importante para o estudante no processo de autoconhecimento e reconhecimento dos sentimentos, contribuindo assim para o seu desenvolvimento socioemocional.
Educador, se desejar conhecer outras possibilidades e aprofundar o que tratamos aqui, leia Competências socioemocionais: entenda agora o papel da escola. Até mais!