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No texto de hoje, convidamos a gestora e pedagoga Geovana Achtschin para falar sobre casos de alunos com ansiedade. Leia a seguir os apontamentos da educadora.
A saúde mental nas escolas
Uma investigação conjunta da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo e do Instituto Ayrton Senna lançou luz sobre a saúde emocional dos alunos. Os resultados de um abrangente mapeamento revelam que 70% dos estudantes avaliados apresentaram questões de saúde mental.
O estudo, divulgado em 2022, envolveu a participação de 642 mil alunos do 5º e 9º anos do ensino fundamental, bem como da 3ª série do ensino médio da rede estadual. Os números alarmantes indicam que dois em cada três alunos enfrentam sintomas de depressão e ansiedade.
Do grupo avaliado, um em cada três afirmou ter dificuldades de concentração em sala aula, outros 18,8% relataram se sentir totalmente esgotados e sob pressão, enquanto 18,1% disseram perder totalmente o sono por conta das preocupações.
Infelizmente, esse contexto não é incomum em outros estados brasileiros. O cenário reforça a importância da atenção à saúde mental e formação socioemocional dos estudantes.
Pensando em debater essa temática, a Árvore convidou a gestora e pedagoga Geovana Achtschin para falar sobre casos de alunos com ansiedade. Confira os principais apontamentos da especialista nos tópicos a seguir.
Como a ansiedade se manifesta na escola?
Um levantamento realizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta que aproximadamente 9,3% dos brasileiros sofrem de ansiedade patológica – aquela que causa transtornos emocionais. Os dados da organização também sinalizam que a maior prevalência de transtornos de ansiedade do mundo está no Brasil.
De acordo com Geovana Achtschin, psicanalista e coordenadora do Colégio Máximo, o sentimento de ansiedade, como qualquer outra afecção, é uma resposta normal do corpo a situações de estresse. A preocupação deve vir quando a ansiedade se manifesta de forma intensa e duradoura, causando sentimentos de medo e pânico.
Geovana aponta que o ambiente escolar pode apresentar situações estressantes para alunos com ansiedade. Isso não quer dizer que a escola faz mal, nada disso! Mas dinâmicas como fazer a apresentação de um trabalho ou responder perguntas do professor podem ser situações incômodas para um estudante que sofre com a ansiedade.
A especialista sinalizou quais são os principais sintomas de alunos com ansiedade:
"Em suma, o aluno que vivencia a ansiedade no ambiente escolar pode, além da dor de estômago (que é bem normal nesse caso), apresentar em dado momento um comportamento retraído ou ainda uma reação de fuga – querer literalmente ir embora da escola! Precisamos ter consciência que parar de socializar com os amigos de classe é um dos sintomas de quem está no auge de uma ansiedade", comenta Geovana.
A pedagoga também nos ajudou a listar outros possíveis sinais de alunos com ansiedade:
elevadas quantidades de faltas;
dificuldades para realizar trabalhos em grupo e atividades com sequências;
desatenção e inquietação, com frequente necessidade de sair de sala;
inibição para responder perguntas em público ou sala de aula;
sintomas corporais como roer as unhas e a síndrome das pernas inquietas;
necessidade de rabiscar papéis e carteiras.
Ela nos lembra, ainda, que a intervenção deve ser cuidadosa e avaliada caso a caso.
Alunos com ansiedade: qual é o papel da gestão?
A seguir, a educadora comenta os principais pontos que a gestão escolar deve acompanhar nos casos de alunos com ansiedade.
Formação da equipe
“Costumo dizer que quem é acolhido sabe acolher”, diz Geovana. “A equipe precisa ser acolhida para poder acolher os alunos. É um efeito dominó.”
Geovana, que também é especialista em Gestão Educacional, afirma que munir a equipe docente de informação é essencial. E a formação precisa acontecer de forma afetuosa também.
"Quando converso com uma equipe em específico gosto de brincar olhando para o ‘baldinho de ferramentas’. ‘Qual ferramenta temos no nosso baldinho para lidarmos com essa situação?’ O bom líder tem esse olhar e se preocupa em instrumentalizar sua equipe com informações, estratégias e ferramentas que sejam coerentes com o momento”, diz a especialista.
As formações podem incluir, por exemplo, debates sobre estratégias práticas de atuação em situações de crise.
“Costuma funcionar ou pelo menos amenizar os sintomas da ansiedade molhar os pulsos com água fria”, comenta. “Se você percebe que o indivíduo está perdendo o ‘controle’ para a crise, ajudá-lo a transpirar pode tirar o foco...”, completa.
Encaminhamento
Além da identificação de sintomas dos alunos com ansiedade, a escola tem a responsabilidade de encaminhar casos de saúde mental para tratamento adequado com profissionais de saúde.
Em nossa conversa, Geovana apontou que a escola pode e deve colaborar com profissionais de saúde mental e demais órgãos externos para garantir um apoio completo aos alunos que sofrem com a ansiedade.
"O primeiro passo é acolher o aluno, entrar em contato com o responsável. Daí em diante, vem todo um trabalho de equipe. Se a escola disponibiliza um psicólogo, ele pode ajudar. Mas é bem viável que ele não dê conta de toda uma demanda que existe dentro do espaço escolar", comenta a especialista.
Acolhimento e acompanhamento
É necessário um acompanhamento constante de estudantes com questões de saúde mental. A escola deve tomar uma série de cuidados ao elaborar um relatório para alunos com ansiedade.
"A escola precisa saber que ansiedade não é bobeira, ela precisa ser vencida. E para vencer algo é necessário todo um esforço que muitas vezes foge da ótica do ansioso. O relatório precisa ser minucioso, conter os detalhes se as crises têm sido recorrentes, mencionar se é possível perceber possíveis gatilhos e como estes foram vencidos dentro da escola", sinaliza.
Geovana também reforça que cada caso deve ser tratado de acordo com a sua singularidade e a ansiedade por se manifestar de diversas formas.
"[Já vi uma aluna que] teve uma crise de riso alto onde eu tive que entrar no riso dela para tirá-la da crise. Esta foi por receber a notícia de uma nota baixa para uma prova que estudou muito. Então, até para informar a nota para o estudante ansioso, dependendo do grau, precisa de um olhar, carinho e empatia que muitas vezes a escola, no dia a dia normal da demanda pedagógica, acaba não tendo", compartilha a pedagoga.
Ponte com as famílias
Geovana lembra que é de suma importância que a equipe esteja ciente de processos para saber lidar com os estudantes em crise. Além disso, também é fundamental estabelecer uma parceria com as famílias:
"Se houver muitas faltas por causa da ansiedade, a legislação prevê a aplicação de um trabalho para compensação de faltas. Mas para isso, é importante a escola estar em contato com a família e, se esta for negligente, estar com tudo documentado. Em último caso, os mesmos podem ser encaminhados ao Conselho Tutelar", adiciona.
De acordo com Geovana, para fortalecer a ponte com as famílias é necessário empatia, escuta e estratégias coerentes.
Alunos com ansiedade: quais são os benefícios da educação socioemocional?
A educação socioemocional desempenha um papel fundamental na capacitação dos estudantes a reconhecer e compreender suas próprias emoções. Essa autocompreensão é essencial para lidar com os sintomas da ansiedade, uma vez que permite aos alunos identificar os gatilhos emocionais que desencadeiam seus sentimentos de apreensão e tensão.
Através da educação socioemocional, a escola se torna um espaço onde os alunos se sentem apoiados e compreendidos, o que é essencial para enfrentar a ansiedade. O desenvolvimento das competências socioemocionais promove a empatia, a comunicação eficaz e a construção de relacionamentos interpessoais positivos, reduzindo o estigma em torno de questões de saúde mental.
Geovana finaliza dizendo que a educação socioemocional é indispensável no Colégio Máximo. Na escola, o trabalho com as competências socioemocionais promove um espaço acolhedor para alunos com ansiedade e para toda a comunidade escolar.
"Meu lema é que a aprendizagem é emocional", comenta. "Se você está bem emocionalmente, você está pronto para tudo. Seu cérebro também é assim, pois ele é você! Se está ansioso, triste, revoltado, pode ser que seu cérebro, por mais que se esforce, não consiga aprender e render tudo o que poderia", afirma a especialista.
Gestor, esperamos que o texto de hoje tenha ajudado a entender melhor como lidar com alunos com ansiedade. Para se aprofundar no tema, não deixe de conferir o papo Educação Socioemocional: Pontes para integrar a comunidade escolar. Até a próxima!
GEOVANA ACHTSCHIN é Mestranda na Miami University of Science and technology onde cursa Tecnologias Emergentes na Educação; especialista em Gestão Educacional pela UNESP de Presidente Prudente, também especialista pela Universidade de Brasília em Neuroeducação e Psicanálise Infantil e especialista em Docência do Ensino Superior. Pedagoga de formação. Gestora Educacional e Professora Autora na Revista Nova Escola, onde desenvolve programas de Língua Portuguesa.